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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Então me tornei o Frevo Nº 3

Na segunda semana de Janeiro Dandara, minha amiga, veio de Minas Gerais passar uns dias comigo. Foi uma visita muitíssimo agradável que encheu minha casa e meus dias de riso e companheirismo. Para celebrar uma visita tão especial nós fomos passear por todos os lugares bonitos possíveis em Recife e Região Metropolitana, nessas andanças, com alegria e pena, percebi que me tornei o Frevo Nº 3 de Antônio Maria.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

"O Minotauro" de Monteiro Lobato


Comecei a ler Monteiro Lobato com nove anos, quando minha vizinha ganhou edições de "Caçadas de Pedrinho" e "O Saci" do patrão dela e me emprestou. Naquela época achei uma leitura muito divertida, gostei muito de acompanhar as aventuras de Pedrinho mata adentro, quis ser Pedrinho, procurava um Saci dentro de todos os pequenos redemoinhos formados por folhas de árvores da vida. Quando encontrei na 5ª Série, atual 6º Ano, um vol. de "Os 12 Trabalhos de Hércules" na biblioteca da escola e fui lá ler novamente.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

"Desonra" - J. M. Coetzee

 


Não lembro mais o porquê de "Desonra" ter ido para no meu kindle. Em algum momento de 2017 vi o e-book e comprei, mas não peguei para ler imediatamente e o tempo passou. Só agora topei novamente com ele e resolvi ler e fiquei absurdada com o magnetismo da narrativa do Coetzee. Comecei a ler meio incerta em relação às minhas próprias escolhas passadas e a forma como consigo ser uma perdulária profissional e muito rapidamente me vi presa em uma história muito tensa, narrada por um personagem problemático, dentro de um momento da nossa história recente muito enviesado e atroz.

sábado, 12 de agosto de 2023

Outubro: História da Revolução Russa de China Miéville [40 Livros Antes dos 40/08]

Existem muitas resenhas de "Outubro: História da Revolução Russa" do China Miéville afirmando ser esse um livro de fácil leitura com uma prosa que flui. Particularmente não achei o livro de fácil leitura, demorei horrores para ler, recomecei do zero algumas vezes e, por fim, determinada a concluir a leitura fui lendo no melhor estilo "um pouquinho todo dia, todo dia um pouquinho".

quinta-feira, 20 de julho de 2023

A História pertence a todos nós. [Citação 014]

“A história pertence a todos nós. Sempre que você fala sobre algo que lhe aconteceu, seus amigos, sua comunidade ou seu país, você está relatando a história através de eventos que ocorreram no passado. A história pode cobrir a política, economia, estilos de vida, crenças, trabalhos de literatura ou arte, cidade ou áreas rurais, incidentes dos quais você se lembra, histórias que os mais velhos lhes contaram, ou temas sobre os quais você apenas pode ler. Falando amplamente, tudo que já aconteceu até o momento em que você lê estas linhas é história, ou o estudo do passado.” (In: GOLDSCHMIDT JR, Arthur; AL-MARASHI; tradução Caesar Souza. Uma história concisa do Oriente Médio. 1ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2021.)

domingo, 12 de março de 2023

Coleção África e os Africanos


Como Professora de História, tenho vivido a saga da construção de uma bibliografia robusta sobre os temas integrantes do currículo escolar brasileiro. Apesar da crescente desvalorização da Educação Escolar; do fato das aulas de histórias serem apenas três por semana, com sorte meus estudantes, frequentes, terão, ao final do ano letivo, 130 horas de estudo da História; tenho horror a ser propositalmente uma professora desatualizada. Então, quando descobri a "Coleção África e os Africanos" da Editora Vozes senti imensa alegria.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Um episódio no 6º Ano: Qual a origem da Humanidade?

"Qual a origem da Humanidade?" é uma pergunta inevitável quando estamos dando aula de História para os 6º Anos. Essa é uma questão que sempre rende panos para mangas, mobiliza os estudantes, gera desconfortos e a resposta padrão é: "Deus criou professora!". Porém, no entanto, todavia, em 2022 um dos meus estudantes me surpreendeu com uma resposta diferente de todas que eu já tinha ouvido na ultima década de docência.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Kindred: Laços de Sangue de Octavia E. Butler [40 Livros Antes dos 40/07]


"Octavia E. Butler é uma autora SENSACIONAL!": essa é a primeira coisa que a gente constata quando termina a primeira página de qualquer livro dela. Mestra da narrativa, envolvente, conscienciosa, fluída, sagaz, forjadora de histórias nas quais várias camadas de sentido dialogam, saltam aos olhos, entrelaçam-se e nos emocionam em um texto leve e dinâmico. "Kindred: laços de sangue" foi minha segunda experiência com a Octavia e sinto-me absurdada com a capacidade dela de escrever histórias pesadas em uma escrita leve e de fácil leitura. Fantástica! Uma autora absolutamente dona de sua narrativa, lúcida, audaz, visionária.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares em Recife


A parte isso, outro dia, estava passando no Centro do Recife e me deparei com a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares. No meio de uma rua comercial, som alto anunciando promoções, sol queimando do corpo a alma... Não perdi a oportunidade e entrei para desfrutar de sua sombra e proteção.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

"A Origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome" de Thomas Römer


Como cristã, ao longo da minha primeira década como historiadora tive preguiça de investigar a fundo a História dos Hebreus e de Israel, ficava nas águas rasas do conhecimento e estava feliz. De certa forma, confrontar minha fé pessoal com a ciência parecia aquele exercício nada promissor, capaz de esfriar minhas convicções religiosas. Porém, nessa segunda década de vida profissional, o momento político do Brasil se enviesou de maneira catastrófica com a narrativa religiosa e, de repente, não mais que de repente, largar a preguiça e enfrentar o desafio de entender melhor Israel, o Reino dos Hebreus e a forma como a narrativa bíblica foi construída ao longo do tempo se tornou essencial. E assim, comecei a estudar Arqueologia Bíblica, adquirindo livros como "A origem de Javé: o Deus de Israel e seu nome" de Thomas Römer.

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

"As relações Perigosas" de Chordelos de Laclos

Por esses dias estive folheando meu volume de "Caro Michele" da Natalia Ginzburg, livro no qual a narrativa foi estruturada oscilando entre a terceira pessoa e várias cartas com as quais os personagens se comunicam entre si. Sou absolutamente apaixonada pela família do Michele, apesar dele ser um personagem meio sumido, pelo próprio Michele e pela intimidade promovida por um livro cuja história se conta através da correspondência dos personagens. Dentro do sentimento de prazer de ler um romance epistolar, "As Relações Perigosas" de Choderlos de Laclos pulou em minha mão e saiu da pilha dos livros a serem lidos.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

A Enxada e a Lança: a África antes dos portugueses de Alberto da Costa e Silva [40 Livros Antes dos 40/3]


Ler "A enxada e a lança: a África antes dos portugueses" do Alberto da Costa e Silva foi uma experiência extremamente difícil e cansativa, poucas vezes um livro me cansou tanto nos últimos 28 anos de vida leitora. Esse calhamaço de 940 páginas sobre a História da África desde o surgimento da humanidade até o ano de 1500 da Era Comum (1500 depois de Cristo) consumiu muito da minha paciência, experiência e tenacidade acumulada ao longo das décadas.

Muitas resenhas anunciam esse livro como delicioso, linguagem ótima, acessível, envolvente, verdadeira viagem ao passado da África sem precisar de Maquina do Tempo. Minha experiência foi totalmente diferente e minha opinião diverge dessas. Para mim esse foi um livro de leitura acidentada, dificilmente é possível lê-lo em um único folego, impossível concluir a leitura em curto espaço de tempo.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Capela de São Sebastião, em Igarassu



A cidade de Igarassu, onde moro atualmente, é uma das cidades mais antigas do Brasil, a cidade é um dos primeiros núcleos de povoamento português no Brasil. Reza a lenda, mentira não é lenda não, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)  diz que aqui se localiza o templo católico mais antigo do país: a Igreja dos Santos Cosme e Damião. Como boa cidade fundada no período colonial, Igarassu possui muitas igrejas católicas com arquitetura barroca característica do século XVI (o século no qual o processo colonizador da América começou a mover suas engrenagens). Já visitei algumas vezes o Centro Histórico de Igarassu e nessas visitas sempre chamou a minha atenção uma igrejinha pequenininha, sempre fechada, solitária no meio de um pátio aberto e deserto. Essa igrejinha  que me lembra a "capelinha de melão" da cantiga infantil é a Capela de São Sebastião que finalmente encontrei aberta, fiquei emocionada com o encontro e decidi fazer um registro.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

A Igreja Matriz de Santo Antônio, no Recife

O centro do Recife guarda algumas igrejas barrocas, nobres sobreviventes dos projetos modernizadores do inicio do Século XX responsáveis por destruir o patrimônio histórico para construir avenidas que partem de "Lugar Nenhum e vão para "Nenhum Lugar". Antes do Covid 19 eu gostava muito de vagar pelo Centro do Recife visitando essas Igrejas, as vezes saia de casa só para isso. As Igrejas Barrocas são obras de arte de paredes largas e portas abertas nos transportam do presente para o passado, de um mundo mais material para um mundo de fé e esperança de perdão e passe livre para o Paraiso depois das dores dessa existência.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Livros sobre a História da África

Outro dia no meio de uma aula sobre "Reinos e Impérios" existentes na África enquanto Europa vivia sua "Idade Média" surgiu entre meus alunos a pergunta: "Professora, como a senhora sabe disso?". Esse tipo de pergunta faz minha professora interior dá saltos triplos, soltar fogos de artificio e se inspirar. Esse post é produto dessa minha inspiração, pois a pergunta me fez tirar a poeira de minha estante e kindle e mergulhar uma vez na História do continente no qual a aventura humana na terra teve inicio há cerca de 100 mil anos atrás.

domingo, 8 de outubro de 2017

O Museu do Cais do Sertão pelos olhos de quem é do Agreste/Sertão

Em Recife existe um museu chamado "Cais do Sertão" no qual,  segundo o próprio site institucional, se pretende, com recursos de tecnologia inovadores, automação e interatividade, além da leitura generosa de cineastas, escritores, artesãos, artistas plásticos, artistas visuais e músicos de todo o país, apresentar os fortes contrastes que marcam a vida nos sertões nordestinos, proporcionando aos visitantes uma experiência de imersão nesse universo.

Em Janeiro de 2017 levei minha amiga Claudinei para visitar o espaço no qual a memória de seu povo é exposta a população de Recife e Região Metropolitana assim como a dos turistas que visitam a cidade. O resultado dessa visita está escrito abaixo em um relato desconcertante da própria Claudineia:

domingo, 30 de julho de 2017

Mitologia Indígena: Formigueiro de Myrakãwéra


Um dos esforços da minha vida de leitora e educadora é aumentar meu acervo e arsenal de livros e histórias nas qual o protagonismo pertença aos povos indígenas e africanos. Isso ocorre não só por gosto pessoal, existe uma lei, a Lei 11.645, de 10 março de março de 2008, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de "História e Cultura Afro-brasileira e Indígena" nas escolas brasileiras e se munir desse tipo de conhecimento é um tipo de dever moral.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

No Dia 8 de Dezembro, TODOS os caminho levavam ao Morro da Conceição

Durante a primeira semana do mês de dezembro, qualquer observador da vida cotidiana do Recife tem a nítida sensação de que todos os caminhos levam ao Morro de Nossa Senhora da Conceição. Eu, ao menos, tenho!


A Festa religiosa que ocorre em torno a devoção a imagem de Nossa Senhora da Conceição localizada no alto do Morro da Conceição é algo muito central para qualquer pessoa que more na Zona Norte da cidade, é impossível não ser notada de um jeito ou de outro. Pessoas de todos os lados da cidade e região metropolitana se deslocam em debandada de todas as formas possíveis para se encontrar com uma imagem gigante da Virgem localizada no topo do morro levando a Ela pedidos e agradecimentos.

Consequentemente, aos pés do morro se concentra uma infinidade de comerciantes ambulantes vendendo todos os tipos possíveis e imagináveis de coisas, assim como uma infinidade de brinquedos meio caindo aos pedaços mais suficientemente consistentes para não causar grandes acidentes.


Durante toda minha infância eu desejei ir ao menos uma vez a "Festa do Morro". Não pela devoção, pois desde que me lembro congrego em uma vertente neopentencostal do cristianismo e me foi incutida uma solida descrença na capacidade dos santos de obter graças diante de Deus, mas sim pela festa em si, pela diversão, pelos doces, pelos brinquedos. Muitas crianças de mina denominação religiosa com pais mais liberais iam, todas as crianças não evangélicas iam, por trinta anos eu não fui. Mas, quando vi todos os ônibus adornados com a placa "FESTA DO MORRO", não resistir!

Me vesti com meu espirito de Sindbad e na companhia da minha amiga Mercia resolvi desbravar um espaço estrangeiro para mim em minha própria terra. Foi maravilhoso!!!!


Subir o Morro da Conceição em dias de Festa do Morro não foi só uma experiencia de satisfazer um desejo infantil de me empanturrar de doces, espetinhos, rapadinhas, pasteis, refrigerante e sorrisos infantis. Depois de passar uma vida me dedicando ao estudo da História foi também uma experiencia antropológica e cultural, foi interessante vê a diversidade de gênero dos visitantes que Nossa Senhora recebe com seu rosto congelado em uma expressão de longanimidade eterna, gente com pé no chão, ajoelhada, com tijolos na cabeça, com velas e mais velas, muitas crianças pequenas vestidas de azul. Os filhos postiços da Virgem do Morro parecem ser pessoas de desejos simples como acolhimento, moradia e saúde para seus filhos.


Interessante também foi perceber como muita gente faz da festa simplesmente um momento de diversão ou de arrecadação de fundos para ajudar nas inúmeras providências necessárias para o romper do ano como pintar a casa, restaurar moveis, comprar novos lençóis, toalhas de mesa e de banho, sapatos, roupas para as crianças. As providências de fim de ano não são apenas caprichos, elas precisam ser funcionais, afinal o ano é longo e cheio de horrores, para alguns a crise é perpetua.


Há quem pense que a multidão pensa com uma mente só, um tipo de manada rumo a uma fonte d'água incerta, mariposas em torno de uma luz. Enquanto eu me juntava a multidão que sobe o Morro da Conceição me ocorreu estarem essas pessoas erradas sobre a multidão. A multidão não pensa coletivamente, ela congrega pessoas com anseios, desejos e motivações diferentes, na Festa do Morro vi pessoas interessadas em sua devoção, pessoas interessadas em agradecer e pedir graças a Ela, pessoas que estavam ali só para vender qualquer coisa - brinquedos/comida/sonhos, pessoas interessadas em se divertir sozinha ou com amigos, pessoas prontas para consumir o máximo possível de bebida alcoólica.


Foi uma experiencia interessante, me sentir vivendo algo meio fora do tempo e do espaço. Algo que se repete ano após ano há mais de cem anos. Algo me diz, meu conhecimento histórico talvez, que festas realizadas próximas aos solstícios e equinócios existem desde o surgimentos dos primeiros humanos nesse planeta girante, mas eu nunca havia participado de nenhuma, então teve ares da magia para mim. Posso ser que eu seja apenas essa pessoa estranha que sou com minhas impressões estranhas da vida, mas havia qualquer coisa de diferente no ar, no entardecer, nas várias  pessoas misturadas com suas várias expectativas.


Outra coisa a se dizer é que essa foi a 106ª Festa do Morro de Nossa Senhora da Conceição e foi a primeira ocorrida depois da Arquidiocese de Olinda e Recife terem reconhecido essa Igreja localizada nos recôncavos da Zona Norte do Recife como um Santuário. Ou seja, essa devoção, essa festa, é algo construído pelas pessoas, as autoridades tiveram que engolir e aceitar.


Uma amiga católica me disse, ciente de que eu ia essa ano e um pouco receosa do meu olhar critico, que a Igreja Católica Apostólica Romana não aprovava muitas das situações protagonizadas pelos fieis. Mas, enquanto eu observava a situação toda com meus próprios olhos me ocorreu que Nossa Senhora é mãe e as mães entendem muita coisa.


Todo esse texto foi escrito enquanto eu ouvia Barbara Bonney cantando a Ave Maria de Schubert, uma canção especial para mim não por questões de devoção, mas sim de memória. Eu cursei a maior parte de meu Ensino Fundamental e Médio no período da tarde, quando largava ouvia o auto-falante de alguém, sempre as seis da tarde tocando essa música. Essa música embalou meu entardecer por anos e o entardecer segue sendo minha hora favorita do dia.

E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
(Apocalipse 12:1)

domingo, 9 de novembro de 2014

Paço do Frevo [Desafio 12 Lugares #07]

Se houve um lugar no qual, desde o inicio desse desafio, eu quis ir foi o "Paço do Frevo", um museu dedicado ao frevo, ritmo característico do carnaval pernambucano e reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural e imaterial brasileiro. O Paço existe para preservar e difundir a memória do que é o frevo e de como ele foi sendo construído pelas pessoas dessa cidade ao longo do último século.

 

Sempre fiquei me perguntando como os organizadores teriam feito para criar um local no qual uma coisa fluida e sem materialidade como um ritmo e uma dança carnavalesca poderia ser preservado e difundido. E sinceramente, não sai frustrada.


O "Paço do Frevo" é um espaço dinâmico como o frevo e ferve de vida como um carnaval. É um local incrivelmente movimentado, durante todo o tempo no qual eu e o Alexandre andamos por lá vimos crianças, sorrisos e aquele barulhinho característico de espaço frequentado por crianças felizes e em momento de felicidade.


Eu me apaixonei pelo espaço pela dinâmica do espaço. Embora deva admitir que o acervo não é tudo o que eu esperava. Atualmente o espaço conta com fotos e videos nos quais as pessoas comentam a história do frevo de forma didática para que as crianças possam compreender de onde vem o frevo e quais foram as pessoas que o construíram, além de um espaço magnifico no terceiro anda no qual nós podemos conferir inúmeros estandartes das agremiações.


Eu senti muita falta de ver os objetos materiais ligados ao frevo: roupas, sombrinhas, instrumentos de sopro, moveis das agremiações. O "Paço do Frevo", apesar de ser tudo de bom, padece da mesma fragilidade do "Museu da Língua" em São Paulo, ou seja, falta de acervo material. E apesar de amar ambos os espaços, acho importante lembrar: "A humanidade faz os objetos e os objetos fazem a humanidade.". Os objetos que cercam nossas vidas são documentos que informam sobre nós, os objetos que cercavam as pessoas que fizeram o frevo também fazem parte e eu sentir falta deles.


Mas, por outro lado é preciso ter paciência, o espaço está aberto há menos de um ano e consequentemente seu acervo está em construção. Sem contar que quem se ocupa de investigar as pessoas não abastadas da sociedade sempre tem que lidar como o fato de que essas pessoas tem serios problemas para conservar objetos por muito tempo.




O frevo é uma criação das pessoas que vivem no lado B da cidade, usando as palavras de Terry Pratchett, o frevo é uma invenção dos:
"desabrigados. Os famintos. Os silenciosos. Aqueles que tinham sido abandonados pelos homens e pelos deuses. O povo das névoas e da lama, cuja única força estava em algum lugar do outro lado da fraqueza, cujas crenças eram tão instáveis e caseiras quanto suas casas. E o povo da cidade — não os que moravam nas grandes casas brancas e iam aos bailes em belas carruagens, mas os outros...".


Essas pessoas da nevoa e da lama, que vivem no lado b da cidade eram e são as "que fazem o reino mágico funcionar" são as que preparam suas refeições, varrem o chão, carregam suas sujeiras à noite, dirigem seus carros, fazem com que a luz acenda e por ai vai... Suas vidas muitas vezes passam sem serem percebidas ou registradas, a menos claro, que eles façam greve ou decidam eleger um presidente ou presidenta. É muito bom visitar um espaço que existe em função de preservar um feito dessas pessoas.

As pessoas desqualificam favelados, analfabetos, pobres com muita facilidade e se esquecem de que nós não somos acéfalos ou incapazes. Nós conhecemos a força que existe do outro lado da fraqueza e deixamos nossa marca nesse mundo e as vezes essa marca é tão grande, lustrosa e imponente que nada consegue apagar, como o frevo, só para citar um exemplo.

Ah, o Alexandre foi comigo ao Paço e graças a ele as fotos ficaram PERFEITAS! Inclusive essa foto fofa com  Antônio Maria, autor do Frevo Número 1 e claro, para não variar estou meio sem jeito cutucando o poeta... 


Esse post pertence ao Desafio 12 Lugares proposto pelo Blog "Aceita um Leite?"


sábado, 1 de novembro de 2014

As aventuras de Sindbad, o Terrestre [Desafio Calendário Literário]


Quando encontrei esse livro, há quatro anos atrás, pensei: "Oi, esse titulo não está ligeiramente errado?". Mas, não, o titulo está certo. Sindbad não é nome próprio, é um apelido, significa "homem da China", e não existiu apenas um, e sim dois. Quem leu a história de "Sindbad, o Marujo ou Maritimo" lembra, ela começa quando ele encontra outro homem com o mesmo apelido e o convida para uma reunião para troca de figurinhas.

A história das aventuras dos dois "Homens da China" foram escritas em meados do fim séculos VIII e inicio do IX na região do Iraque. A edição da Martins Fontes conta com introdução e notas explicativas de René R. Khawam e este explica ter sido as histórias do Terrestre e o Marujo duas partes de um obra única escrita pelo mesmo autor. Partilho com Khawam a concepção de que toda história contada funciona é um documento através do qual podemos acessar informações e obter conhecimento sobre o passado e sinceramente não existe um caminho através do qual eu não ame o mundo Árabe de meados da Idade Média.

Enfim, voltando ao livro, nele nós conhecemos o Hasan, nome verdadeiro do personagem, ele é morador da cidade de Al-Basra. Quando o vemos pela primeira vez ele é um rapaz órfão que acabou de diluir uma fortuna significativa. Com uma forte tendencia ao drama, ele é o tipo capaz de tomar decisões tolas e escolher mal suas amizades, no entanto não é um rapaz orgulhoso ou preguiçoso, tem a seu favor uma educação esmerada, graças a sua mãe ele domina a caligrafia, o Corão, a boa linguagem e sabe pedir ajuda quando precisa dela.

Tão logo ele se vê pobre corre atrás de uma amigo ourives, este lhe ensina sua profissão. De órfão gastador Hasan de Al-Basra torna-se o ourives mais requisitado e dedicado da cidade, as pessoas param a porta de sua oficina para observar seu talento. Seu talento é, aliás, o responsável por atrair a atenção do um alquimista Persa que seduz nosso jovem trabalhador a se meter em uma empreitada complicada em busca de enriquecimento fácil. Apesar dos protestos e avisos de sua mãe sensata de Hasan é emocional demais para ceder a tentação de ir atrás do Persa.

Aliás Hasan está bem fora do modelo machista de masculinidade. Ele é emotivo, recita versos quando está feliz ou amargurado, é fiel a uma única mulher, é totalmente capaz de manter amizade e pactos de irmandade com mulheres, sabe pedir por favor, implorar, chorar.

Esqueça-se também o modelo de feminilidade, na história de Hasan as mulheres estão bem distante de donzelas em perigo, muito pelo contrario, elas são princesas guerreiras, soldados, fiscais de alfandega, generais, pessoas independentes, capazes, astutas, manipuladoras quando preciso, capazes de viver sozinhas. Elas são as principais ajudadoras do viajante.

Para se livrar da enrascada na qual se mete quando não segue o conselho de sua sábia mãe, Hasan conta com a ajuda de princesas filhas de Djins que vivem em uma ilha isolada. A mais nova das princesas se move de amor por ele e faz dele seu irmão. Sim, você leu bem, ele encontra moças virgens, solitárias em uma ilha e não as machuca, molesta ou casa com elas, ele vira irmão delas. A irmandade dele com essas moças é um pacto que jamais é quebrado em toda essa história.

É na companhia dessas moças que ele encontra com o amor de sua vida, uma princesa filha de Reis de Djins das Ilhas Waq do Waq [Arquipélago do Japão]. Para conquistar o amor de sua princesa ele conta com a ajuda de sua irmã adotiva e lança mão de artimanhas. Como tudo que vem com estratagemas, na primeira oportunidade sua princesa foge de volta a sua terra com os filhos fruto do matrimonio. A maior aventura de nosso herói consiste em trazer sua esposa e seus filhos de volta para casa.

A busca de Hasan por sua esposa é a melhor parte do livro. Ela coloca em evidencia a diversidade étnica dos territórios pelos quais os muçulmanos transitavam durante os século VIII e IX e das pessoas que se convertiam ao islamismo. Hasan encontra homens e mulheres poderosos, de várias cores e em várias situações de poder diferentes.

"As aventuras de Sindbad, o Terrestre" oferece uma visão privilegiada das fronteiras orientais do mundo Árabe, nos da a saber um pouco de como era a vida além da Europa durante o período medieval. É maravilhoso andar pelas cidades movimentadas, pelos mercados nos quais circulam várias pessoas e objetos de diversas origens diferentes. Foi revigorante encontrar com mulheres empoderas, homens sensíveis a ponto de narrar suas dores em versos de dar inveja a poeta romântico ou poderosos capazes de se sensibilizar com a boa poesia. Tais encontros me fazem crer ainda mais que relações de gênero e modelos de feminilidade e masculinidade não são naturais e sim historicamente construídos.

Ainda quero ser Sindbad, o Marítimo, mas não existe um caminho através do qual eu não ame o emotivo, leal e fiel Hasan.  O Terrestre é um aventureiro sensível e emotivo, corre atrás do amor de sua vida, sua fortuna são seus amigos, amigas, irmãs, esposa e filho, jamais esquece de voltar a casa de sua mãe e, se cruzasse meu caminho, também eu diria

"Quanto a ti, que tua alma esteja satisfeita, que teus olhos enxerguem com limpidez, que teu peito respire livremente, pois tu te tornaste nosso irmão e nós nos tornamos tuas irmãs. Está entendido, entre Deus Altissimo e nós, que doravante nenhum sofrimento poderá atingir-te sem nos atingir também!" ("As aventuras de Sindbad, o Terrestre, pg. 57).
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O "Desafio Calendário Literário" do "Aceita um Leite?"  de agosto foi ler "um clássico da Literatura Fantástica", em meio as minhas angustias existenciais eu me atrasei nas postagens. Mas, é melhor atrasar que não chegar néh gente! Em breve vou postar sobre "Fahrenheit 451" de  Ray Bradbury e "Alice no país das Maravilhas". :)

Esse post faz parte do Desafio Calendário Literário!